Três erros comuns sobre Cultura Organizacional

Por Pedro Paro

Certa vez, antes de uma entrevista, Edgar Schein, professor do MIT,  e uma das principais referências em “Cultura Organizacional”, perguntou para a repórter: “o que é cultura para você?”. Achei curioso esse fato. Primeiro, ele buscou entender o que significava cultura, para a outra pessoa, para somente então poder conversar do mesmo nível de profundidade. 

O que é cultura para você? Que significado ela tem?

No meu mestrado, fiz uma revisão da literatura no estado da arte sobre o alinhamento entre Cultura Organizacional e Estratégia de Negócios. Eu, particularmente, penso na cultura como o fator crítico de sucesso do negócio. Confesso que li exatos 1.337 artigos sobre o tema ao longo de dois anos da minha vida – caso queira acessar o texto completo, basta acessar o texto do meu mestrado neste link. Existem centenas de diferentes definições sobre cultura organizacional na literatura. 

E não é diferente no mundo corporativo.

Na verdade, noto uma série de erros sendo cometidos todos os dias quando falamos em cultura organizacional. Por isso, neste artigo, eu gostaria de comentar sobre três erros comuns.

Erro 1: Trabalhar cultura não dá resultado

Eu confesso que já ouvi várias pessoas dizerem que “cultura não dá resultado”.

Na verdade, eu acredito que seja o oposto, e apenas precisamos mudar o pensamento sobre cultura. Alguém consegue me dizer algum resultado, de alguma organização, que seja entregue sem uma cultura organizacional? Sem cultura, não há resultados.

Eu ainda não conheço nenhuma organização que não seja formada por pessoas (quando quebrarmos esse paradigma, será uma mudança extremamente radical). Todas as organizações são formadas por pessoas. Os negócios são feitos em relacionamentos, e os relacionamentos são feitos por pessoas! Portanto, todo e qualquer resultado de uma organização, é fruto da qualidade da cultura organizacional. 

A cultura tem influência no crescimento do negócio, performance de vendas, experiência do cliente, bem-estar dos colaboradores, perspectiva de futuro das lideranças, produtividade, turnover, absenteísmo, diversidade, capacidade de inovação e vários outros índices! 

Inclusive, no meu mestrado, identifiquei em estudos dos EUA, China, Austrália e Europa, que cerca de 66% a 90% das estratégias de negócio falham em função da cultura, e com isso há uma série de prejuízos para as organizações. Para o Tony Hsieh, ex-CEO e fundador da Zappos.com, “se você tiver a cultura correta, todo o resto irá acontecer naturalmente”. 

Erro 2: O Guia de Cultura Não é a Cultura

Percebo que o erro mais comum é acreditar que a cultura de uma organização são os valores declarados no site, o posicionamento nas redes sociais, o guia de cultura desenvolvido por especialistas externos ou o mimo que os colaboradores recebem e postam no LinkedIn.

Para começo de conversa, se todas as empresas realmente fizessem aquilo que está escrito em suas respectivas declarações de propósito, missão, visão e valores, nós provavelmente não estaríamos conversando sobre os problemas que enfrentando enquanto Humanidade e Planeta – estaríamos falando de outros tipos de problema.

A verdade é que tudo isso são artefatos da cultura, e não a cultura em si. O que uma empresa fala que faz, não necessariamente é aquilo que ela faz.

Para o Schein, “a cultura é o padrão de pressupostos que um determinado grupo inventou, descobriu ou desenvolveu ao aprender a lidar com seus problemas de adaptação externa e integração interna”

Eu adoro essa definição. E gosto de simplificá-la e torná-la mais didática. Eu gosto de pensar a cultura como a maneira pela qual nós resolvemos problemas. É natural que os problemas ocorram nas organizações. Fazer negócios é resolver problemas. A grande questão, é como nós resolvemos os problemas! A cultura é o “como”.

Vou dar um exemplo.

Imagine que a sua organização está passando por um desafio de sobrevivência. Ela precisa retomar o crescimento das vendas e melhorar a proposta de valor para os clientes. 

Reformular a lista de valores declarados, o Guia de Cultura e a comunicação da organização, irá realmente ajudar a resolver esse problema de negócio? Pode ajudar, sim, porém, apenas incluir o valor “foco no cliente”, na lista de valores declarados no site, não vai mudar em nada o como a empresa resolve os problemas dos clientes. 

Para resolver esse problema, é preciso mudar a maneira como a organização se posiciona no mercado e se relaciona com os clientes. E, para mudar isso, é preciso mudar a maneira como as pessoas agem, pensam e sentem sobre o posicionamento da empresa e a experiência dos clientes. Portanto, mudar a cultura, é mudar como as coisas são feitas na organização.

Erro 3: Acreditar que a cultura não muda

Outro erro muito comum que encontro no mercado, é acreditar que a cultura não muda. Na verdade, ela está em constante processo de mudança! Ela está mudando o tempo todo, tenhamos consciência ou não desse processo.

A mudança é a grande constante no mundo dos negócios!

Por que seria diferente com a cultura?

A nossa sociedade está em constante mudança – para melhor ou para pior, é uma outra conversa. As nossas organizações estão em constante mudança, e as pessoas também estão em constante mudança. 

A mudança é uma grande constante, a grande questão, é a velocidade das mudanças! 

A sua organização está liderando ou está seguindo as mudanças do mercado?

Toda vez que ocorrem mudanças no ambiente interno (mudança de hábitos de trabalho) ou externo de uma organização (mudanças de hábitos de consumo), a organização precisa mudar para acompanhar essas mudanças. Algumas mudanças podem ser mais incrementais, ou terem saltos e quebras de paradigmas mais elevados conforme as necessidades da estratégia. 

E quem não acompanha as mudanças do mercado, pode perder sua relevância ou morrer.

Quando falamos em cultura organizacional, existem vários outros erros cometidos no mercado! E você, quais erros mais comuns tem notado acontecerem? 

Compartilhe conosco! Assim aprendemos e evoluímos juntos.