Quase duas décadas atrás, quando começamos a falar sobre Nova Economia, Capitalismo Consciente ou Capitalismo de Stakeholders no Brasil, basicamente citávamos os exemplos de empresas americanas e europeias: Disney, Whole Foods Market, Starbucks, Patagonia, Ikea, BMW, Unilever e diversas outras. Para as organizações brasileiras, parceria que a Nova Economia era algo exclusivo de grandes corporações internacionais.
Em 2019, quando divulgamos os resultados da primeira edição da Pesquisa Humanizadas no Brasil, foi possível identificar que a Nova Economia não é exclusividade de grandes corporações internacionais. Exemplos de empresas como Natura, Reserva, ClearSale, Grupo Jacto, Elo7, Raccoon e diversas outras, ajudaram a quebrar um senso de vira-lata quando falamos de Capitalismo de Stakeholders.
Porém, mesmo com a identificação desses exemplos nacionais, nas inúmeras palestras que realizo no país, eu ainda ouvia a seguinte frase de consultores e empresários brasileiros descrentes da Nova Economia: “trabalhar propósito, cultura, diversidade, ESG e inovação, são temáticas de grandes corporações, pois demandam grandes investimentos”.
Será que é isso mesmo?
Dois anos depois, na 3ª Edição da pesquisa, avaliamos 300 instituições brasileiras a partir da percepção de 86.553 stakeholders. O que descobrimos? Em um recorte exclusivo, analisando a performance das organizações de acordo com seu porte (micro, pequeno, médio e grande), identificamos que as Micro e Pequenas Empresas (MPEs) tendem a performar melhor do que médias e grandes corporações em índices de confiança, inovação, bem-estar, diversidade, transparência, desenvolvimento humano, satisfação dos clientes, satisfação dos colaboradores, performance ESG (Enviromental, Social and Governance) e reputação da marca.
Vou dar um exemplo.
O índice de confiança nas relações internas (-100 Pts a +100 Pts) de uma grande corporação é de + 13 pontos, médias organizações possuem avaliação de + 23 pontos e as MPEs de + 45 pontos. Ou seja, em média uma MPE pode ter um grau de confiança nas relações até 3,5 vezes superior às grandes corporações. E esse grau de confiança superior ajuda as organizações a migrarem de um ciclo vicioso (baixo engajamento, alto turnover, baixa satisfação dos clientes e perda de vendas) para um ciclo virtuoso (alto engajamento, baixo turnover, alta satisfação dos clientes e crescimento sustentável de vendas). Citei apenas um exemplo, e poderia ter citado vários outros.
Por que isso ocorre?
O desafio de manter relações de confiança, cultura saudável, propósito alinhado, equilíbrio entre bem-estar e alta produtividade, é muito maior em uma organização com mais de 30.000 colaboradores espalhados por todos os 27 estados do país, quando comparado ao desafio de uma micro e pequena organização com 20 colaboradores que interagem juntos todos os dias e possuem relação próxima com os fundadores da empresa.
Em organizações de micro e pequeno porte, os fundadores não apenas conseguem interagir diretamente com os colaboradores, como também conseguem estar próximos da operação e do atendimento dos clientes. Essa proximidade não apenas reduz o tempo de resposta às mudanças, como também ajuda a manter vivo o alinhamento de propósito e valores.
Nas médias e grandes corporações, o desafio é muito maior. A partir do momento em que os fundadores contratam pessoas, e essas pessoas começam a contratar outras pessoas, que irão posteriormente contratar outras pessoas… e, essas pessoas, que não necessariamente terão a oportunidade de conviver diariamente e diretamente com os fundadores, passam a não consumir o propósito e os valores da organização diretamente da fonte. Portanto, é esse distanciamento que pode gerar uma série de prejuízos à qualidade das relações e à performance organizacional.
As grandes corporações performam melhor do que as MPEs?
Não necessariamente. Existem grandes corporações como Magalu, ClearSale, Viacredi, Reserva, Grupo Jacto e diversas outras, que possuem sim performance superior à média do mercado brasileiro em índices como inovação, bem-estar, diversidade, performance ESG, transparência, confiança, satisfação dos clientes, satisfação dos colaboradores e reputação da marca. Porém, esta não é a realidade da maioria das grandes corporações.
As MPEs performam melhor do que as médias e grandes corporações?
No geral, estatisticamente, a tendência é que sim. As MPEs podem encontrar na Nova Economia um grande diferencial competitivo, afinal, o desafio de manter alta performance na qualidade das relações, para as médias e grandes corporações, é muito superior. Porém, esta não é a realidade da maioria das MPEs do país.
Existe uma grande jornada evolutiva pela frente. O desafio é enorme para as médias e as grandes corporações, e as MPEs podem encontrar uma grande vantagem competitiva. Juntas, essas organizações de micro, pequeno, médio e grande porte, podem apoiar a ascenção de uma Nova Economia no país.