Hoje, quando falamos de sustentabilidade, o foco costuma estar nas mudanças climáticas e seus riscos. Riscos físicos, de transição, de responsabilidade, residuais… riscos, riscos, riscos. Depois das famosas IFRS S1 e S2, o mundo corporativo só fala em riscos climáticos. No entanto, é hora também de nos despertarmos para outros riscos, alguns até mais difíceis de identificar, entender e mitigar.
Quem é da Geração X adora fazer piadas e memes sobre as gerações Y e Z, exaltando sua própria força e resiliência diante das adversidades do mundo. É verdade, era preciso ser muito forte para, nos anos 90, enquanto assistente ou estagiário, encarar tarefas como fazer mil cópias em uma máquina de xerox, ouvir piadas racistas ou de gênero e até mesmo aguentar o chefe gritando no seu ouvido. A Geração X vivenciou uma infinidade de situações que hoje, apesar de o ambiente de trabalho não ser perfeito, seriam inimagináveis. No entanto, é importante que esta geração entenda, ou melhor, se convença, de que as próximas gerações querem muito mais.
No Brasil, em 2030, entre 35% e 40% da força de trabalho será composta pela Geração Y, que já ocupará posições de liderança. Cerca de 25% a 30% da força de trabalho será formada pela Geração Z, que começará a assumir cargos mais relevantes, e a Geração Alpha, nascida a partir de 2010, ingressará no mercado de trabalho. Essas duas últimas gerações são mais atentas às atitudes das empresas em relação a uma ampla gama de questões, como impacto ambiental, igualdade social, diversidade e, claro, a possibilidade de trabalho remoto. As empresas precisarão, de fato, se preparar para recebê-los.
Quem lembra do jogo Tetris? Parte das gerações X e Y passou muitas horas jogando esse jogo de design muito básico e simples, que nos hipnotiza com o desafio de encaixar blocos de lados planos, que caem lentamente no lugar certo. Supostamente, isso dá ao jogador uma sensação de ordem e controle. O desenho das organizações atuais costuma ser como um jogo de Tetris — de cima para baixo, hierárquico, com regras claras e limites fixos em relação a horários, locais físicos e funções. Entretanto, esse não é o jogo preferido da geração Z, e muito menos da Alpha. Eles jogam Fortnite, Minecraft, Among Us e Roblox, não Tetris. Muitos desses jogos permitem uma alta personalização, onde os jogadores podem criar seus próprios mundos e desempenhar inúmeros papéis. Você pode inventar o trabalho dos seus sonhos, construir pontes ou espaçonaves, cuidar de uma fazenda ou viver em uma mansão à beira-mar. A sensação é de autoexpressão e criatividade, não de organizar blocos. Parece que eles vão querer a mesma coisa no trabalho. Será que a Geração X, que ainda preside empresas e compõe conselhos, consegue imaginar como criar um ambiente, uma estrutura organizacional, que atraia, contrate e retenha Talentos, jogadores de Roblox?
Digo Talentos com T maiúsculo, porque me refiro àqueles que terão real capacidade de navegar pelos próximos turbulentos anos com maestria. Afinal, ninguém acredita que os próximos 10 anos serão tão tranquilos quanto os 10 anteriores, certo? Ahh, você não acha que os últimos 10 anos foram tranquilos? Acredite, foram.
Geração X, é hora de parar de “mimimi” e começar a pensar nisso seriamente!
Por Denise Alves – Sócia e Chief Sustainability Officer da Humanizadas